sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Sobre o meio do caminho


Um menino dormindo e outro na frente da TV. Um marido na cozinha comendo e uma mãe imóvel sentada na cadeira pensando. Pensando a respeito do que? 


Vai a mente pelo nada, penso quase sobre o tudo. Olhando fotos antigas me pergunto: Sou eu ainda nesse retrato que existe? Existo? O corpo cansado e a respiração  difícil diz que sim.

Quando é que vão inventar alguma coisa que renove o ânimo e as energias sem que se precise dormir? Quando, meu Deus?! Podia ser ontem pra eu pode gozar o hoje, mas não! Resolveram ficar discutindo no presente a possível extinção do bacon. Eu adoro bacon. Só acho que esse santo remédio pra levantar o corpo seria mais importante....talvez.

O corpo não é mais o mesmo. Ainda está inteiro, mas não corre mais uma maratona. Aliás,  não corre nem até o portão da casa 25. O negócio dele é fazer a cabeça pedir pra dormir e dormir, hoje, custa caro.

É preciso deixar várias coisas para depois: Casa, meninos, roupas, textos, leituras...Quem troca? Troco sim. Por oito possíveis horas de sono seguidas. Quem sabe?!

Existo?! Sim, mas quem sou? Sou mais quem: eles ou eu? Mãe ou mulher? Filha ou aluna? Humana ou um robozinho? Um pouco automática, sim. Não menos sensitiva. Sempre pensativa.

Alguém acordou. Deixa eu ir! Depois conversamos mais....

quinta-feira, 13 de setembro de 2012


Menino: Mãe, você tá triste hoje.
Eu: Tô não. Só tô cansada, filhote.
Menino: Cansada de ser mãe?!


Não. Não cansada de ser mãe. Deve ser o tempo,  o calor...Vai dando uma moleza na gente. O motivo do cansaço é o de menos.  Ele, ainda que inocentemente, achou que eu tivesse talvez cansada dele. Como pode?

Eu: Nunquinha, meu filhote. Nunquinha...

domingo, 9 de setembro de 2012

Sobre a madrugada


Nem de longe eles fazem a noite tranquila. Ela é agitada, ainda que todos durmam. De um lado, o menino mais velho dorme e dorme bem, sem interrupção. Apenas fala algumas poucas palavras. As vezes. Outro dia, choramingava. Se revirava de um lado e outro e pegava a cobertinha nas mãos. Espremia o tecido entre os dedos e se segurava como se pudesse evitar, talvez em sonho, o cair. Não sei se era cair. Quando acordou perguntei se sonhara algo ruim, mas ele disse que não.

-Tive sonho nenhum...

No remelexo na madrugada chamava a mãe. Quando ela chega perto e sussurra ao ouvido perguntando se ele está bem, o menino, diz que está triste. Triste por qual motivo? Ninguém tão pequeno tem algo sério assim pra se sentir triste. Não, não na minha opinião. Não aquele menino nessa casa. Não era nada. Só remelexo, só conversa fiada. Nada que ele se lembraria de manhã.

O outro mais novo também se remexe no berço de madeira que está no quarto da mãe.  Ela olha no relógio e conta nos dedos: Uma, duas, três, quatro horas. Sim, é hora de dar o leite ao pequeno.

Enquanto tenta entender o motivo da tristeza do nada do outro, se deita e arruma o travesseiro pra aconchegar o bebê ao seu lado. Pensa que não pode dormir pra não correr o risco de deixar o bebê sufocar ou de jogar o corpo, ainda sobre os efeitos da gravidez, sobre o menor. Ele ainda vai pedir comida mais uma vez até o sol nascer. Ele mama e dorme num ritual diário. Pode levar minutos. Poucos ou muitos.

Lá se vão uma hora, duas. Nisso a noite se vai. Se um se aquieta é hora de saber como o outro está. Imagina se eles dessem trabalho. Imagina se eles não dormissem.